Estudo sobre emissões conduzido em São Paulo pede ação para restringir veículos poluentes

São Paulo e outras cidades brasileiras deveriam retirar gradualmente de circulação seus veículos mais antigos e adotar políticas públicas para enfrentar os altos níveis de poluição do ar, é o que aponta um novo relatório da iniciativa TRUE – The Real Urban Emissions Initiative

Press release

Estudo sobre emissões conduzido em São Paulo pede ação para restringir veículos poluentes

São Paulo e outras cidades brasileiras deveriam retirar gradualmente de circulação seus veículos mais antigos e adotar políticas públicas para enfrentar os altos níveis de poluição do ar, é o que aponta um novo relatório da iniciativa TRUE – The Real Urban Emissions Initiative.

As emissões dos sete milhões de veículos que circulam pela região metropolitana de São Paulo são o principal fator poluente do local e contribuem diariamente para uma crise de saúde pública, já que os níveis de dióxido de nitrogênio (NO₂) material particulado (MP) frequentemente excedem as diretrizes da Organização Mundial da Saúde (OMS).

O estudo, conduzido pelo TRUE em parceria com a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB) e a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), incluiu 323 mil medições de emissões veiculares coletadas em nove pontos da região entre os meses de maio e julho de 2024. Para tanto, utilizou tecnologia de sensoriamento remoto para medições de monóxido de carbono (CO), hidrocarbonetos (HC), amônia (NH₃), óxidos de nitrogênio (NOₓ), fumaça por ultravioleta (um indicador de material particulado) e emissões evaporativas.

Os principais achados do estudo incluem:

Os automóveis de passeio mais antigos — com mais de 18 anos de uso — foram identificados como os principais emissores de poluentes, embora representem menos de 7% da amostra de veículos de passeio. As emissões reais de automóveis a gasolina da fase L3 do PROCONVE (Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores) foram 19 vezes superiores aos limites de hidrocarbonetos (HC), quatro vezes superiores aos de monóxido de carbono (CO) e o dobro dos limites de óxidos de nitrogênio (NOₓ) estabelecidos pelo programa.
Caminhões a diesel fabricados antes da fase P3 do PROCONVE representaram cerca de 10% da amostra e apresentaram emissões reais de NOₓ e material particulado (MP) que foram, respectivamente, mais de 5 e 12 vezes superiores às dos caminhões mais novos. Ainda assim, mesmo os modelos mais novos apresentaram emissões reais acima dos limites estabelecidos pelo programa.
Táxis e veículos de transporte por aplicativo, que representaram quase 30% da amostra de automóveis de passeio, emitiram o dobro de hidrocarbonetos (HC), monóxido de carbono (CO) e óxidos de nitrogênio (NOₓ) em comparação aos carros particulares.
Veículos de carga urbana, em grande parte responsáveis pelas entregas de última milha, apresentaram emissões reais de NOₓ e material particulado (MP) quase 30% superiores às dos caminhões convencionais de transporte de longa distância.
Os grupos de veículos com piores níveis de emissão (automóveis particulares com os motores Fiat 1.0L e Chevrolet 1.8L), certificados segundo a fase L6 PROCONVE, apresentaram, em média, emissões até 3,4 vezes superiores para HC, 1,5 vez para CO e 2,5 vezes para NOₓ em relação aos limites estabelecidos pelo PROCONVE. Já táxis e veículos de transporte por aplicativo equipados com esses mesmos motores exibiram emissões reais significativamente mais altas: mais de 12 vezes os limites de HC, duas vezes os de CO e quase quatro vezes os de NOₓ.
As recomendações de políticas incluem:

Retirar gradualmente de circulação os veículos mais antigos e mais poluentes, que representam uma parcela pequena da frota, mas cuja substituição traria benefícios significativos. Além da promoção da eletrificação por meio de programas de sucateamento e incentivos fiscais que ofereçam estímulos financeiros.
Eletrificar os grupos de veículos muito usados, como táxis, carros de aplicativo e caminhões de carga urbana, cujas emissões são elevadas, poderia gerar um impacto expressivo na redução das emissões totais da frota.
Atualizar o programa PROCONVE com base no desempenho real de emissões dos veículos.
Implementar inspeções nacionais de manutenção veicular, a fim de reduzir as emissões de veículos não registrados na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP), que representaram cerca de 35% da amostra avaliada.
Novos veículos leves (LDVs) e veículos pesados (HDVs) devem atender aos limites de emissão estabelecidos, respectivamente, nas fases L8 (a partir de 2025) e P8 (a partir de 2023) do programa PROCONVE, que precisará continuar evoluindo para reduzir ainda mais as emissões da frota.

Fatores ambientais também desempenham um papel importante nos desafios de qualidade do ar da cidade, já que o ozônio troposférico (O₃) é agravado pela alta incidência de luz solar e pelas temperaturas elevadas, um desafio comum no Brasil.

A CETESB atua como agência ambiental do Governo do Estado de São Paulo e é responsável pelo controle, fiscalização, monitoramento e licenciamento de atividades geradoras de poluição, tendo entre suas atribuições a preservação da qualidade do ar.

A Diretora de Qualidade Ambiental da CETESB, Maria Helena Martins, afirmou: “A região metropolitana de São Paulo tem sua qualidade do ar significativamente influenciada pelas fontes de emissão veicular. Apesar dos esforços realizados ao longo dos anos para o controle das emissões, novas políticas públicas ainda são necessárias para reduzir o impacto da frota circulante sobre a qualidade do ar. O estudo TRUE, realizado em parceria com o ICCT, possibilitou uma avaliação mais precisa das emissões da frota em condições reais de uso. Esses resultados são importantes para apoiar o poder público e a sociedade na priorização de ações voltadas à redução dessas emissões, assim como para compreender os impactos positivos esperados com a implementação de medidas de controle e o avanço de tecnologias mais limpas.”

“Essa parceria é estratégica e extremamente relevante. Com os resultados do estudo, teremos em mãos insumos que, em conjunto com a CETESB, serão utilizados para desenvolver ações efetivas voltadas à redução de emissões e à melhoria da qualidade do ar em São Paulo”, afirma Marcel Martin, diretor-geral do ICCT Brasil.

Sheila Watson, Deputy Director da FIA Foundation e parceira da TRUE, afirmou: “Este relatório evidencia a necessidade urgente de agir sobre as frotas mais poluentes de São Paulo – especialmente os veículos de uso intensivo e os mais antigos – para enfrentar a crise de qualidade do ar da cidade. Também demonstra que é preciso uma ação nacional voltada ao monitoramento e aprimoramento da frota, com um forte impulso em direção à eletrificação, mas também ao enfrentamento dos fatores ambientais que têm agravado a crise da qualidade do ar em São Paulo.”

Detalhes da publicação

Título: Assessment of real-world vehicle emissions in São Paulo

Autores: Kaylin Lee, Mallery Crowe, Yoann Bernard, Guido Giovanelli Haytzmann e Ana Beatriz Rebouças (International Council on Clean Transportation)

Sobre a Iniciativa The Real Urban Emissions

The Real Urban Emissions (TRUE) é uma iniciativa que apoia cidades em todo o mundo no desenvolvimento de políticas eficazes de qualidade do ar e clima, com base em dados de emissões veiculares em condições reais, análises técnicas e orientação especializada.
A iniciativa foi criada pela FIA Foundation e pelo International Council on Clean Transportation (ICCT).
www.trueinitiative.org

Sobre o ICCT

O ICCT (International Council on Clean Transportation) é uma organização independente, sem fins lucrativos, fundada para fornecer pesquisas e análises técnicas e científicas imparciais de alta qualidade. Nossa missão é melhorar o desempenho ambiental e a eficiência energética dos transportes rodoviário, marítimo e aéreo, contribuindo para a saúde pública e a mitigação das mudanças climáticas.

Sobre a FIA Foundation

A FIA Foundation é uma instituição independente registrada no Reino Unido, que apoia um programa internacional de ações voltadas para segurança viária, ar limpo e combate às mudanças climáticas.

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